Luís Carlos "Charles" Tocantins
Enfermeiro e professor universitário
Ex-abuense de Goiânia
Mais um dia de trabalho termina, mais um dia de vida (vivida?) passa. A cabeça no travesseiro repousa, as pálpebras dobram-se sobre as luzes frágeis e o silêncio ensurdecedor toma conta da mente. Há um vazio sufocante que preenche o ser e brada em busca de resposta:
Quem está aí... aí... aí... (o grito ecoou) aí... aí... ?
Tem alguém aqui... aqui... aqui... aqui...?
Estou eu aqui... aqui... aqui... aqui...?
Sou eu aqui... aqui... aqui...?
aqui... aqui... aqui... aqui... aqui...
A ausência de respostas incomoda mais que o vazio em si. Por que ninguém responde? Tantos anos de labuta não servem para construir alguém ali?A voz da ausência zumbe tão alto que esmaga. Indagações sem fim invadem o recôndito antes isolado. Será que muros erguidos, outrora para proteção, tornam-se uma prisão?
Se hoje vazio estou (sou?),
quem sou diante das pessoas?
Deram-me tantos papéis para encenar,
tantas personagens que vivi,
que me perdi entre uma e outra.
Se tudo que fiz me desconstruiu.
Certo estou de que hábil não sou.
Oh Criador, Oleiro impecável,
vem e transforma a massa amorfa
com esmero singular no teu lar.
Em meio à Sua perfeição amolda meu coração,
pois se falida obra de minhas mãos me tornei,
aguardo humilde a redenção que pela Graça,
Infinita e comum, mediante a qual sei,
posso alcançar, em esplendor divinal,
Paz e refúgio em tempo oportuno.
E quando a cabeça no travesseiro repousar,
e as pálpebras dobrarem-se
Se acaso vier a indagação,
não mais o eco hei de confrontar.
Mas a calorosa voz do meu Senhor
há de me acalmar respondendo:
“Eis-me aqui, EU SOU”!
As opiniões expressas no texto são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, as posições da ABUB.
19.3.08
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Um comentário:
Muito bonito e verdadeiro, parabéns!
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