11.8.08

De volta para “casa”

Thiago Felipe Alves Pinto
Recém-formado em Direito e participante do intercâmbio ABUB/NKSS (Noruega) 2007/2008
ABU Curitiba - PR

Depois de 10 meses de viagem, quase 50.000 km percorridos, volto para casa e não me sinto em casa. Tenho a estranha sensação de não pertencer a lugar nenhum e ao mesmo tempo pertencer a todos. Agora chegou a hora de rever o que foi mais importante no meu ano sabático. Viajei o mundo para entender que o ápice da criação são seres humanos. As pessoas que eu conheci foram aquilo que mais me marcou nesta viagem. Pessoas que agora fazem parte da minha vida. Relacionamentos que foram somente possíveis em Cristo e através dele.

Posso dizer que em teoria já sabia que precisamos uns dos outros, mas foi a experiência de estar longe daqueles que eu amava que provou o mesmo para mim. Deus nos criou para que pudéssemos experimentar a mesma comunhão que Ele tem. Nossa comunhão nada mais é que expressão do amor divino. O pecado nos leva a viver sozinhos, mas através da obra redentora de Cristo podemos novamente ter nossos relacionamentos redimidos. Somente nEle podemos continuar unidos, mesmo se estivermos separados por um oceano de distância.

Através dos amigos que tenho aqui e dos novos que fiz nesses dez meses foi que eu entendi mais sobre esse processo de redenção. Desenvolvi muitas atividades lá fora e percebi que muitas coisas deram certo porque teve muito pouco de mim envolvido. Como disse o Nouwen: "Eu tenho fé que Deus está trabalhando em mim e a forma como eu tenho mudado, interna e externamente, é parte de um grande movimento do qual eu sou apenas uma pequenina parte”. Então foi Deus, usando a vida de cada um lá e de cada um dos meus amigos aqui, quem me ajudou neste processo. Por isso não há mérito nenhum meu, nem nada de que eu possa me orgulhar.

Acho que mudei bastante, mas não consigo avaliar a mim mesmo, então só vocês saberão dizer. Penso que o mais importante eu aprendi: Cristo está sempre de braços abertos para nós, até mesmo pendurado no madeiro ele estava de braços abertos (e nós carregamos os pregos dEle nos nossos bolsos). Relacionamentos sempre envolvem dor e é o reflexo do amor incondicional de Cristo que somos chamados a refletir. Posso parecer ingênuo, mas acho que essa é a única forma de mudarmos o mundo.

A pior dor que sinto hoje não é a saudade. Antes de voltar ao Brasil participei de um treinamento na Ucrânia. Conheci alguns estudantes da Geórgia que me encataram pelo carisma que tinham. Ao ver os bombardeios na Geórgia hoje, compartilho o sofrimento dos nossos irmãos que lá estão. Posso dizer que honestamente nunca senti os efeitos de nenhuma guerra. Hoje faço parte de uma resistência silenciosa. Alguém que clama a Deus pela vida das pessoas que lá estão. Estudantes com quem eu pude ter comunhão por uma semana e a partir de então passaram a fazer parte da minha vida. Se eu sofro um pouco, eles o sentem de maneira muito mais profunda. Por isso creio que devemos orar para que a Rússia acabe com esses ataques.

É por estes e outros motivos que afirmo que não podemos entender Deus completamente. Temos de ser humildes e aceitar o mistério. Citando São Gregório de Nanziano “O Divino não pode ser limitado ou barateado por conversas humanas. Ele se revela no mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E é neste mistério que reside a possibilidade de redenção”. Não podemos compreender completamente este mistério, mas sabemos muito do amor que Cristo revelou por nós. E é este amor que pretendo demonstrar nessa volta para “casa”.

Obs:

Tenho todos os relatórios de atividades desenvolvidas no Intercâmbio da ABU do Brasil com a “ABU” da Noruega.

Se alguém deseja ler as atividades (que foram muitas) só escrever para mim que eu envio: thisk8cwb@hotmail.com

http://picasaweb.google.com/thiago.felipe.alves

http://osdecadentes.blogspot.com/

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá,

compartilho com o sentimento do Thiago a respeito da redenção, mesmo porque nossa afinidade de espírito já vem de alguns anos. Daí segue minha impressão de que a profundidade de uma mensagem redentora é refletida em seu nível de simplicidade e radicalidade.

abraços!

Thiago disse...

Eu recebi notícias da Georgia e repasso para aqueles que estão orando:

A secretaria geral agradeceu nossas orações. Ela disse que foram os piores dias da vida deles.
Apesar do cessar fogo a situação ainda é tensa e instável.
Gori foi a cidade mais devastada e não temos notícias do grupo de estudantes de lá ainda.
O escritório lá foi bombardeado, assim como a maior parte da cidade.
A família da obreira que trabalhava em Gori teve sua casa destruída e agora eles estão refugiados em outro local.

Em Cristo

Thiago

Kjetil disse...

Oi Thiago. A guerra entre a Russia e a Georgia faz mal mais que meu imaginacao. Quando ajudamos o povo lá podemos entender mais sobre a redencao entre nós especialmente, e támbem entre eles.
Queria disser que o mundo é justís, mas temos a viagem distante para encontrar isto. Mas, felizmente, temos a esperanca em Jesus.
Que bom que vc chegou no Brasil com amizades boas na sua mala!
Tenho Saudade de vc cara!

Que Deus te continue abencoando.