10.9.08

As árvores e o Filho Pródigo


Vinícius Leonardi
Mestrando em Matemática
ABU Curitiba, PR


Sempre gostei de admirar as árvores. Adoro olhar o balanço no vento, as folhas na copa.

As árvores baixas e com folhas grandes me dão a impressão de acolhimento. Já as altas se impõem mais, esboçam beleza e complexidade. No alto de suas copas ramificações, folhas e luz do dia se misturam aleatoriamente. Apesar de cada elemento dar a impressão de saber para onde vai, permite ao mesmo tempo que o vento crie um movimento plástico e rítmico.

Quando presto atenção no todo não consigo fixar nos detalhes que o formam e que são dinâmicos.

Ainda há um quê de paz de espírito, um tempo parado.
Certo dia estava deitado em um banco ao ar livre. O lugar era muito simpático, havia bancos, mesas e árvores altas que cobrem com sombra todo o local. Escutava a belíssima música "olhos no espelho" do João Alexandre, sobre o Filho Pródigo. Enquanto ouvia a música admirava as folhas das copas lá no alto e as cores que se misturavam aos feixes de luz...

De repente me veio a impressão de que a questão do filho pródigo é maior do que parece à primeira vista. Talvez estejamos o tempo todo longe de casa, e por isso tentamos reconstruir a casa do pai em idéias, escolas, prazeres e tudo mais. Talvez a comida dos porcos não seja diferente objetivamente das boas bebidas e festas, pois o que muda entre uma situação e outra é nossa percepção da decadência. Enquanto dormimos não nos damos conta da lama em que estamos, não acordamos do nosso sonho ingênuo.

Jesus Cristo disse que nos prepararia morada. Esta morada não é no tempo presente. Quero dizer que se apresenta enquanto esperança e percepção de que não estamos ainda na casa do Pai. De fato, até a morte nunca estaremos.

Todos somos como o Filho Pródigo. Nossa despedida de casa foi a queda e não sabemos ao certo o caminho. Temos, entretanto, uma intuição ou pequena chama que nos diz o que é a casa do Pai. Quando temos alguma coisa parecida com ela nos sentimos bem. É assim a conversa entre amigos numa mesa de café.
Porém, o que prevalece é a sensação de distância do lar, é a luta diária, a solidão contínua. Sempre há aqueles que acham que estão em festa, ou que atribuem ao que fazem importância e virtudes tais que sintam a ilusória sensação de estar no lugar certo. O fato é que todos estamos nos alimentando com os porcos. A diferença entre uma sensação e outra não são as coisas, que são sempre as mesmas, e sim o abrir dos olhos pelo Espírito.

Nesse ponto, caminhamos por inércia ou pela misericórdia... Longe da casa do Pai e sonhando com ela. Tal como os ramos das árvores seguimos aleatoriamente em busca da Luz, somos acompanhados pela complexidade da copa, o vento do Espírito sopra sobre nós, mas ainda não sabemos para aonde vamos.

As opiniões expressas no texto são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, as posições da ABUB.
Foto: Andrew King

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Vínicius, parabéns pelo texto, a descrição nos faz imergir na cena. Enquanto o lia, via a copa das árvores se agitando ao vento em frente a minha janela e realmente sinto que preciso muito que o Espirito Santo me agite cada vez mais, para que posso estar todo o tempo consciente de onde é a Casa do Pai e para que eu consiga transmitir aos estudantes essa mensagem!

Um abraço!