13.2.09

Ao Descer do Monte, o Grande Vale

Lucas Rolim
Estudante de Administração/ UFV
ABU Viçosa - MG

Vejo-me, neste instante, dividido em dois homens. Ambos decidem tomar caminho rumo ao Vale, visto já ser findo o tempo por sobre os montes.

Ah! Como foram doces as horas lá em cima. Os silêncios trouxeram, várias vezes, as estrelas para mais perto e o sorriso acompanhou o movimento da lua minguante. Os olhos brilharam como sol ao ver a aurora da esperança raiar por entre as árvores. Chuva de graça foi o que experimentou esses homens que são dois, quando eles eram um no tempo da contemplação, em que me vi. Descobri a arte de andar por essa chuva e desfrutar do sabor refrescante das gotas que caem no coração. Que poder de cura tem essas gotas!

Foi possível experimentar quão bom era o par de asas dadas pelo meu Grande Poeta. Nunca me vi voando tão alto e tão seguro... Com as asas, foi possível até apostar corrida com os ventos e seus cavalos, depois de dançarmos suave e contidamente. Os cálices guardavam os sabores das mais doces bebidas já provadas. Sentir-me-ia embriagado, se não fosse pela lucidez que as próprias bebidas concediam a mim. Fartei-me do mais precioso manjar, na companhia dos mais nobres príncipes e princesas. O grande Rei, Aquele que inspira a Luz do Sol, foi o nosso anfitrião por todos esses dias. Estava nele toda a alegria que sentíamos, todo o consolo que precisávamos, toda esperança e força que aspirávamos.

Pois é... Hoje se findam os tempos nos altos montes. E realmente vejo-me divido em dois homens que caminham rumo ao Vale. Um possui o semblante ainda sorridente, cantarolando as saudosas canções, recitando poemas de amor e sorrindo para tudo que encontra. Até na pedra esse homem consegue ver beleza. Ele é o responsável por guardar o par de asas e guardar a receita do manjar, aprendida no passado tempo. Usa ao pescoço um colar de estrelas... Eram no mínimo cinqüenta e cinco estrelas. Caminha em direção ao Vale, sonhando encontrar novos montes. E seus olhos anelam o cumprimento dessa profecia.

Não é tão belo o semblante de meu outro ser. O outro homem, que segue também em direção ao Vale, traz um olhar apreensivo, quase amedrontado, como se já soubesse que aquilo que o espera será completamente diferente daquilo que viu todos esses dias atrás. Ele leva na mão, com cuidado, um espelho que ganhou de presente do Grande Anfitrião. Logo, ele sabe do impostor que pode aparecer a qualquer momento. Esse homem guarda em uma caixa de madeira toda bordada, que foi colocada próxima ao coração, as poesias escritas com lágrimas da realidade de sua vida antes do tempo dos altos montes. Na mochila, ele tem um álbum de fotografias e todas elas são em preto e branco. Qualquer um que as visse diria a mesma frase: "a imagem que mais me amedronta é a da Morte lutando contra o Mercador Veneziano (dono do maior baú de máscaras de carnaval já visto até os dias de hoje)". É arrepiante ver que lá embaixo esse homem terá a árdua tarefa de usar as gravatas monocromáticas, que já lhe são estendidas pelos braços de uma velha chamada Responsabilidade, e terá de pintá-las com cores, que a esta não agrada, mas que combinam com a cor das roupas que o Poeta lhe deu.

Dois homens que me traduzem e dizem da ambigüidade, do conflito do meu ser diante do grande Vale. Dois monstros que me perturbam, me afligem e me provam. Dois anjos que me alertam, me acalmam, guardam marcas que podem salvar uma vida. Dois lados, uma moeda, um vale, um clamor: "Grande Poeta, não deixe de derramar daquela doce chuva mais uma vez!"

(Lucas participou do Instituto de Preparação de Líderes (IPL) - foto), em janeiro deste ano, com a participação de 55 estudantes. O texto foi escrito e encaminhado para seus companheiros de IPL e reflete suas experiências com os principais temas tratados.

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo Lucas, parabéns por esse belo e sensível texto. Posso dizer que no Vale as lembranças do Monte são como um balsamo, e melhor ainda, nos ajudam a lembrar que o tempo no monte foi apenas uma amostra de milhonésimos de segundos do que teremos no Palácio do Rei! Que isso reviva cada dia mais sua Esperança!
Bjs

zaza-mirana disse...

Saudaçoes do escritório internacional da IFES Oxford! Muito obrigada Lucas por compartir isso connosco! Oramos por vocês para que o Senhor lhes ajude nos ministérios que Ele lhes tem confiado nos campuses do Brazil. Keep up the good work! Abraços. Anja

Anônimo disse...

Estava olhando as fotos do CF, confesso que com uma pontinha de inveja (inveja boa! hehehe) e pensei justamente que "deve ser difícil descer da montanha depois de 21 dias assim", e então vim ler esse brilhante texto. Concordo com o que a Cássia disse, esses momentos me fazem mesmo ansiar pelo grande dia em que estaremos plenamente na presença gloriosa do Rei, que, com Sua imensa misericórdia, eu creio que os usa para sustentar nossa esperança. E, não podemos esquecer, que nosso papel ao descer e enfrentar o a cinza rotina das empresas e tribunais, é trabalhar para que mais e mais pessoas O conheçam e tenham o mesmo privilégio!